Há seis delas ainda, casas de diferentes tamanhos, diferentes estilos, diferentes bairros, mas unidas pelo mesmo passado tenebroso e conhecidas pelo mesmo nome - Casas BTK.
Greg Lietz de 47 anos, que trabalha em uma loja de roupas, comprou sua pequena casa estilo campestre na rua Edgemoor, em 1999, mas disse que só foi saber da história do lugar um ano depois, no Halloween.
"Decorei a casa e comprei doces, mas ninguém bateu na minha porta", disse Lietz. "Perguntei a uma pessoa. Eles disseram que alguém tinha assassinado uma família lá em casa. Quatro pessoas."
O assassino em série assinava BTK em suas cartas aos repórteres --das iniciais em inglês de amarrar, torturar e matar. Ele matou 10 pessoas em Wichita e ficou foragido por três décadas.
Dennis Rader de 60 anos, confessou ser culpado dos 10 assassinatos e fez um longo e detalhado relato de cada assassinato no tribunal, tão gráfico e assustador que os noticiários passaram tarde da noite, com uma advertência aos pais.
Mas para quem escolhe comprar --ou como Lietz, descobre que já comprou-- uma das casas onde houve um assassinato, a confissão de Rader literalmente atingiu seu lar. No mesmo tom monótono e pela primeira vez publicamente, ele descreveu estrangulamentos, masturbação e até as últimas palavras da vítima nos mesmos aposentos em que essas pessoas atualmente cozinham, descansam, trabalham e dormem.
Connie Pouyamehr de 52 anos, caixa em uma mercearia, viu a reapresentação do noticiário na segunda-feira em sua casa. A mesma que Rader arrombou no dia 27 de abril de 1985 --seis casas depois da sua, na rua Independence-- com uma sacola de boliche com o que ele chamava de "kit" --e esperou a vítima que vinha espreitando, Marine Hedge.
"Ela entrou com um visitante", contou Rader na corte. Ele disse que se escondeu no banheiro até o homem sair e depois atacou Hedge em seu quarto de dormir. "Ela gritou", disse ele. "Eu pulei na cama e a estrangulei manualmente." Seu corpo foi encontrado na semana seguinte, em uma vala na estrada.
Quando questionada, no dia seguinte, o que achou da confissão, Pouyamehr explodiu: "O que você pensa? Fiquei horrorizada com a coisa toda, não só com o que aconteceu na minha casa."
Pouyamehr comprou a casa --com três quartos e cerca de cedro- seis anos após o assassinato. Ela achava que Hedge tinha sido sequestrada ali, mas não sabia que também tinha sido morta na casa.
Como Hedge, ela via Rader e sua esposa Paula regularmente carregando os tomates do jardim para casa. Agora, a rua está cheia de repórteres, aficionados e curiosos.
"Tem pessoas que, depois da igreja, gostam de parar e mostrar às crianças onde BTK morava", disse ela. "Depois da missa."
Ronald Hudson de 48 anos, que trabalha na construção civil, mudou-se para um duplex branco na Rua Pershing há três meses. Ele não se abalou quando o senhorio contou-lhe que Nancy Fox tinha sido assassinada ali, em 1977.
"É uma boa área, tranquila, e o preço está certo", disse Hudson. Antes de Hudson, dois moradores saíram assim que souberam da história, disse o senhorio. Mesmo assim, ele acompanhou de perto na segunda-feira, quando Rader descreveu como se escondeu na cozinha, permitindo que Fox fumasse um último cigarro antes de estrangulá-la. Hudson foi olhar: "Levantei-me, fui para a cozinha e disse: 'Como ele entrou na casa dessa mulher, esperou na cozinha, e ela não ouviu nada?'"
Seu vizinho, William Stofer de 23 anos, que também trabalha na construção civil, disse que acreditava que o espírito de Fox rondava os dois apartamentos, pois ouve barulhos inexplicáveis na cozinha quase toda noite.
Certa vez disse Stofer, ele e sua namorada encontraram a churrasqueira elétrica ligada sem que ninguém tivesse tocado nela. Eles chamaram a polícia, que nada encontrou. "Ouvi dizer que ela foi estrangulada na cozinha", disse ele. "Eu fico um pouco assustado."
Diane Boyle de 54 anos, enfermeira aposentada, disse que ficou furiosa quando descobriu meses depois de comprar um bangalô construído nos anos 40, na rua South Hydraulic no inverno de 2002, que BTK tinha assassinado Shirley Vian Relford ali em 1977.
Boyle, certo dia, disse a uma vizinha: "Sei que o caso do BTK foi por aqui", pensando que era na rua acima. "O corretor não me contou", disse ela. "Perguntei à vizinha e ela disse: 'Bem, Diane, é a sua casa.'"
Para as imobiliárias, esse tipo de casa é conhecida como "propriedade estigmatizada". No entanto, nenhuma lei obriga os agentes a revelarem nada além das informações materiais, como uma infiltração ou rachadura, disse Frank Stucky, presidente da Associação de Agentes Imobiliários da Área de Wichita.
"Não sei de nenhuma regra a não ser o bom senso", disse Stucky. "Certamente, na minha cabeça um caso como o do BTK cairia na categoria de algo que o comprador gostaria de saber."
Boyle disse que se soubesse, provavelmente teria comprado a casa de qualquer jeito, mas "não teria pago tanto". Ela disse que o filho da morta --que era um menino em 1977, quando sem saber deixou Rader entrar na casa-- tinha visitado a casa duas vezes quando esteve na cidade para as aparições de Rader na corte.
Todos os moradores entrevistados disseram que um médium britânico, Dennis McKenzie, visitou suas casas no ano passado, antes da prisão de Rader para tentar ajudar a resolver o caso extraindo imagens das paredes.
A maior parte se acostumou com os pedidos dos estranhos. Uma das casas dos assassinatos do BTK, onde Kathryn Bright foi esfaqueada na rua East 13th, foi destruída; sobraram seis.
Na Independence, Pouyamehr há muito se cansou da manutenção da casa e quer se mudar. "Quero uma casa nova, sabe?" disse ela. "Acho que toda mulher quer uma casa nova, uma vez na vida."
Ela quer sair de Independence também. "Antes era um bairro bom e tranqüilo", disse ela. Um cartaz no jardim de Rader na mesma rua anuncia que a casa de três quartos do assassino será vendida em um leilão no dia 11 de julho. Sua família mudou-se, e os retratos do interior vazio estão disponíveis no site da Web da imobiliária. Como uma casa qualquer."
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