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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Caso da Semana: FRITZ HAARMANN - O Açougueiro de Hunnover PARTE II

Descoberta e Confissão
Durante todo o pânico que tomou conta de 1924, Fritz Haarmann se tornou um suspeito definitivo. Assim como todos os outros agressores sexuais locais, Haarmann foi investigado várias vezes durante maio e junho, mas nenhuma evidência conclusiva foi encontrada. Enquanto isso, anúncios da imprensa davam detalhes dos crânios encontrados na esperança de obter pistas do público em geral. A quantidade de crânios e corpos ainda sendo descobertos, gerou furor em todo o país e uma falta geral de confiança na força policial alemã.

Hans Grans e Fritz Haarmann

Com a crescente pressão, o seguinte curso de ação foi combinado: como Haarmann já conhecia os funcionários da cidade, dois jovens policiais chegariam de Berlim na estação de trem de Hannover, fingindo serem sem-tetos à procura de um lugar para ficar. Eles então, se concentrariam nas atividades do suspeito e esperariam para pegá-lo no ato. Mais uma vez no entanto, a sorte incrível do assassino conspirou contra eles quando Fritz foi encontrado discutindo com Karl Fromm de 15 anos de idade; um menino que tinha passado vários dias no apartamento de Haarmann. Fromm estava sendo particularmente "insolente e arrogante" nesta noite, e surpreendentemente, Haarmann teve a audácia de denunciá-lo à polícia ferroviária, alegando que ele estava viajando com documentos falsos. Uma vez na estação de polícia no entanto, Fromm virou o jogo com relação ao homem mais velho acusando-o de assédio sexual durante a sua estadia. Coincidentemente, um membro da equipe estava na estação no momento, e no conhecimento de que a polícia estava esperando para prender Haarmann, o oficial decidiu apreender o suspeito imediatamente.
Antes que quaisquer suspeitas desnecessárias pudessem ser despertadas, Haarmann foi levado para a prisão na manhã do dia  23 de Junho.
O assassino mais tarde afirmou que ele tinha armado para que levassem Fromm sob custódia, porque ele sabia que ia matar o menino e tinha medo de que não fosse capaz de resistir ao desejo por muito mais tempo. Se esta declaração é verdadeira, essa foi a primeira vez que as ações da Haarmann foram motivadas por quaisquer escrúpulos morais; e esses supostos sentimentos de culpa foram responsáveis pela sua queda.

No entanto, o caso não foi fechado com a rapidez necessária imaginada por conta do encontro de algumas evidências substanciais. Centenas de itens de vestuário foram encontrados no quarto de Haarmann ou confiscados de seus conhecidos; esses itens coletados foram identificados como propriedade dos meninos desaparecidos, mas não havia nenhuma evidência que declarasse diretamente que ele tinha sido responsável pelas mortes. Haarmann inevitavelmente alegou que os itens em seu poder foi consequência de seu negócio de comércio e tratamento de roupas usadas. Ele admitiu que teve relações sexuais com alguns dos meninos, mas negou qualquer conhecimento do paradeiro das vítimas e deu explicações plausíveis para os vestígios de sangue presente nas roupas .
O suspeito mais uma vez exibiu considerável habilidade em evitar perguntas diretas, prolongando assim o interrogatório. Haarmann era um homem astuto, e compreendendo a necessidade natural em manter em segredo a questão da homossexualidade na época, consequentemente sabia que seria difícil para a polícia obter provas incriminatórias de suas vítimas e suas famílias.

Uma dessas vítimas era um garoto chamado Robert Witzel, cujos parentes vinham continuamente "assediando" a polícia desde o seu desaparecimento em 26 de Abril de 1924. Quando os primeiros ossos foram encontrados mais tarde naquele ano, Herr Witzel foi persuadido a examinar a evidência apreendida para confirmar que o maxilar irregular de um dos crânios descobertos era de Witzel. Tudo o que se sabia na época, era que Robert havia visitado o circo local na noite do desaparecimento com o seu melhor amigo, o " astuto e juvenil Fritz Kahlmeyer." Fritz, em silêncio durante todo o calvário diria apenas que os meninos tinham viajado para o circo com um "oficial de polícia da estação ferroviária." A razão da natureza secreta do garoto foi compreendida; ele também havia sido abordado e abusado sexualmente por Haarmann, que consequentemente o procurou como se fosse um "senhor da sociedade". Itens do vestuário de Witzel foram encontrados no apartamento do assassino, ainda que Haarmann não tivesse confessado.
A descoberta veio quando um casal entrou na delegacia de polícia e passou pela família de Witzel, que estava sentada do lado de fora do gabinete do Comissário Chefe. Frau Witzel imediatamente reconheceu a jaqueta que o homem vestia, e perguntou onde ele tinha conseguido a jaqueta. O homem admitiu que ele tinha adquirido através de Haarmann e até mesmo forneceu um cartão de identificação da jaqueta com o nome ' Witzel '. A senhora que o acompanhava era Frau Engel, proprietária da casa de Haarmann que foi para a delegacia dar continuidade a inquéritos relativos à pensão de seu inquilino. Esse enorme golpe de sorte, além da evidência do tecido finalmente convenceram Haarmann a confessar seus crimes.
O prisioneiro, foi consequentemente sujeito a um incessante e severo interrogatório. Após sete dias de pautados por sentimentos de raiva e mania, Haarmann quebrou e perguntou pelo superintendente e juiz de instrução, para quem ele iria fazer uma confissão completa.
O assassino então levou os oficiais da corte para uma "excursão  de assassinatos" por Hannover. Eles foram expostos a partes de cadáveres escondidos em arbustos, ossos dragados de um lago e esqueletos espalhados ao redor da cidade. Inevitavelmente, mais e mais pessoas que tinham obtido roupas ou carnes de Haarmann ou Grans se apresentavam à polícia; e a quantidade de provas se tornaram uma bola de neve .

O personagem de Haarmann também mudou durante este período. Ele agora se abria para as autoridades da investigação exibindo um lado útil, infantil e muitas vezes sarcástico da sua natureza. Só se fosse confrontado pelos pais de suas vítimas ou se precisasse discutir sobre algum ato de decapitação, ele se retraia novamente. A impressão geral era de que ele se sentia aliviado de um fardo terrível, por ser capaz de discutir a escuridão e o medo que envolviam sua anormal vida sexual. Houve também um diferente grau de orgulho em possuir a capacidade de enganar a humanidade como um todo, humanidade na qual Haarmann sempre falou mal.

Hanz no meio, com os detetives de polícia em Novembro de 1924



Como resultado de todas essas informações concretas, Hans Grans foi preso no dia 08 de julho, ele e Haarmann se encontraram em várias ocasiões antes de seu julgamento começar. Nessas ocasiões, Haarmann estava sempre perturbado e Grans parecia indiferente ao caso todo. Haarmann permaneceu na prisão até 16 de agosto, antes de sere enviado para Gottingen, localizado nas proximidades para um exame psiquiátrico. O julgamento, sem precedentes na história judicial alemã , continha 60 volumes de arquivos e começou em 04 de dezembro de 1924 .
Julgamento e Sentença


O julgamento foi realizado na Hannover Assizes, durou 14 dias e teve quase 200 testemunhas. O decreto de abertura do julgamento que foi amplamente divulgado, afirmava que Fritz Haarmann era "acusado de assassinar  27 pessoas intencionalmente e deliberadamente" de Setembro de 1918 a Junho de 1924.

HAARMANN SENTADO EM FRENTE AO DESENHO DA PRÓPRIA CASA

Haarmann insistiu em conduzir sua própria defesa e permaneceu totalmente indiferente durante todo o julgamento; em um dado momento reclamou que havia muitas mulheres na sala do tribunal,  eo juiz respondeu em tom de desculpa que ele não tinha poder para mantê-las fora (!!!).  Ele foi autorizado a conduzir o processo com total liberdade  e foi notavelmente imaturo e irresponsável, interrompendo frequentemente o processo. Em outra ocasião, quando uma mãe ficou muito perturbada para conseguir prestar depoimento sobre seu filho com clareza, Haarmann ficou aborrecido e pediu permissão para fumar um charuto. A permissão foi concedida imediatamente (!!!).

No entanto, a combinação ingênua entre ficção e fato do assassino foi de maneira geral aceita como refrescante em contraste com a discurso legal dos juristas, e da hipocrisia confusa das autoridades. Para os jornalistas, ele disse uma vez em tom de censura, "Você não está a mentir; sabemos que vocês são todos mentirosos", ".. Seja breve. Eu quero passar o Natal no céu com a minha Mãe". Haarmann se divertiu constantemente durante os procedimentos e, notavelmente, arrancou um sorriso até mesmo do público em mais de uma ocasião.


Ao contrário de Fritz,  Hans Grans, acusado em dois casos de instigar assassinato, apareceu como um personagem resistente e inquebrável. O júri posteriormente o marcou
 como o mais perigoso (mesmo sendo o mais inocente) dos dois. A defesa de Grans foi totalmente focada em auto-preservação, atitude que provocou a sua queda.  Dessa maneira, Fritz se vingou fazendo acusações incríveis e completamente imprecisas de assassinato contra seu parceiro, nas quais o tribunal acreditou de todo o coração. Uma vez que alcançou o seu objetivo de não ir sozinho para a morte, Haarmann se acalmou e deixou Grans falar.
Hans Grans

Inevitavelmente, porém, o conto mais arrepiante de todos veio quando Haarmann tomou a posição de explicar seu método de assassinato nos mínimos detalhes.

"Eu nunca tive a intenção de ferir aqueles jovens, mas eu sabia que se eu fosse em frente, algo iria acontecer e me fez chorar ... Eu iria me jogar em cima desses meninos e mordê-los em seus Pomos de Adão, estrangulando-os ao mesmo tempo . "

Haarmann explicou a culpa muitas vezes sentida neste momento, e que regularmente caia no corpo morto, cobrindo o rosto com um pano de modo "que não estaria olhando para mim."
"Eu ia fazer dois cortes no abdômen e então colocar os intestinos em um balde, em seguida absorver o sangue e esmagar os ossos até que os ombros quebrassem. Agora eu poderia pegar o coração, os pulmões e os rins;  picá-los e colocá-los em meu balde. Eu tiraria a carne dos ossos e os colocaria na minha bolsa. Eu levaria cinco ou seis viagens para tirar tudo e jogar no vaso sanitário ou no rio. Eu sempre odiei fazer isso, mas eu não poderia me ajudar - a minha paixão era muito mais forte do que o horror do corte e do desmembramento".

Os crânios foram quebrados em pedaços e jogados no rio ou pântano, as roupas doadas ou vendidas. Quanto mais essse processo ocorria, mais eficiente tornou-se e, embora toda a cidade de Hannover consumisse a carne e usasse as roupas de suas vítimas, Fritz Haarmann permaneceu fora do alcance das autoridades.
Alguns meninos que ele negou ter matado - por exemplo, um menino chamado Hermann Wolf, cuja fotografia mostrava um jovem feio e mal vestido, Haarmann declarou que o menino era muito feio para ele se interessasse.

O assassino alegou repetidamente ter sido impulsionado pela beleza e sensualidade, e não pela interpretação cínica de sexo ou lucro. Ao seu ver, era mais fácil matar alguém que você amou - de maneira a trazer paz para ele.
 

Os peritos apresentaram então, os seus relatórios no sentido de que, embora o assassino tivesse uma "personalidade patológica", ele não tinha sido desprovido de livre-arbítrio e responsabilidade, e portanto, não tinha qualquer insanidade. Grans e Haarmann continuaram suas disputas mesquinhas em todo o processo, e comportavam-se um com o outro permanecendo da mesma maneira até o amargo fim.
Às 10 da manhã de 19 de Dezembro de 1924, Haarmann recebeu 24 sentenças de morte em 24 casos; e Grans recebeu 1 sentença de morte por supostamente incitar o assassinato no Caso Hannappel. Após o anúncio do veredito, Haarmann proclamou:
."Eu quero ser executado no mercado. Na lápide deve ser colocada esta inscrição: 'Aqui jaz o assassino em massa Haarmann'." O tribunal não cedeu ao pedido, e Haarmann foi devidamente decapitado dentro das paredes da prisão de Hannover. O apelo de Grans foi rejeitado e a sentença de morte cumprida corretamente no final.
Fritz Haarmann depois de ser sentenciado
 No entanto, esta história contém uma reviravolta final. Um mensageiro de Hannover chamado Lueters encontrou na rua uma carta endereçada a Albert Grans, pai do homem sob sentença de morte. Ele fez com que a carta foi passada para o destinatário, que por sua vez passou para o tribunal. A nota era uma confissão de quatro páginas de Fritz Haarmann, escrita enquanto ele era levado de carro para a delegacia.
A carta resumia sua relação com Grans, e mais importante, proferiu a inocência do jovem.

"Hans Grans foi sentenciado injustamente, e isso é culpa da polícia e também minha, pois eu queria vingança... Se coloque na posição de Grans: ele irá questionar a existência de deus e da Justiça por causa de mim... Que Hans Grans me perdooe pela minha vingança e humanidade."
A intenção exata dessa carta nunca totalmente foi compreendida. Estaria Haarmann realmente perturbado pela sua consciência, ou foi simplesmente uma tentativa tortuosa para atrasar a sua própria execução? Agora é a opinião comum dos especialistas de que o veredito do tribunal Hannover foi insatisfatório, no sentido de que Haarmann foi sem dúvida colocado sob pressão por certas autoridades durante todo o julgamento. É muito provável que seja o caso de um jovem negligenciado e inocente , que foi condenado à morte apenas como resultado de declarações feitas por um homem declarado mentalmente doente por cinco psiquiatras diferentes. Neste sentido, como disse Theodor Lessing, um comentador sobre o caso Haarmann, "um assassinato judicial foi cometido." Tal como suas outras vítimas, Fritz Haarmann matou a única que ele amou, desta vez usando o sistema jurídico alemão como sua arma. Após as mortes dos dois homens, outra carta de Haarmann foi encontrada.

 Esta explicando suas ações puramente como uma tentativa de se vingar contra a polícia. A declaração conclui, "Você não vai me matar, eu estarei de volta - sim, estarei entre vocês por toda a eternidade. E agora você também mataram. Vocês devem saber que: Hans Grans era inocente. Bem, como está sua consciência agora? "




Em 15 de abril de 1925, Fritz Haarmann foi executado na guilhotina. Suas últimas palavras foram:

"Arrependo-me, mas não temo à morte".

Após sua decapitação, sua cabeça foi preservada e usada por cientistas da época para examinar a estrutura de seu cérebro. Os restos de suas vítimas foram enterradas em uma tumba comum.

O caso agitou muita discussão na Alemanha sobre a pena de morte, a abordagem correta para criminosos e doentes mentais, os métodos de investigação policial, e até a respeito da homossexualidade.

Lápide em homenagem às vítimas de Haarmann


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