- 26/01/2018
Associação apresenta recomendações para combate à violência contra pessoas trans
O número de assassinatos de travestis e transexuais registrados no Brasil, em 2017, é o maior nos últimos dez anos, segundo o Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil, lançado nesta semana pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Para enfrentar o grave quadro de transfobia que faz do Brasil o país mais violento para essa população, a associação defende a adoção de dez medidas protetivas pelo Estado, tanto em âmbito federal quanto local.
“A violência acompanha a gente diariamente, desde que a gente nasceu. Por isso, não dá para deixar de apontar essa situação. Ocorre que, por muito tempo, a gente vem falando essencialmente em números. No mapa, nós sugerimos propostas de ações para que, em primeiro lugar, a sociedade se inteire dessas propostas e pense como elas podem ser instrumentalizadas para combater esse cenário”, afirma a secretária de Articulação Política da Antra e autora do estudo, Bruna Benevides.
Segurança
Em primeiro lugar, a associação aponta que é necessário “conquistar a efetivação da criminalização, qualificação e tipificação de crimes cometidos por discriminação contra a população LGBTI”, a fim de que seja dada visibilidade, haja padronização de procedimentos de apuração e também produção de dados. Bruna explica que, atualmente, não há dados oficiais sobre a população trans no país, restando às organizações da sociedade civil o mapeamento, por exemplo, dos casos de assassinato, o que é feito de forma precária.
Por outro lado, a Antra defende a garantia do atendimento das travestis e mulheres transexuais em todas as delegacias especializadas de Atendimento à Mulher (Deam), bem como o enquadramento na Lei Maria da Penha em casos de violência doméstica. Para tanto, acrescenta também a necessidade de capacitar agentes, operadores e pessoas que compõe os órgãos de segurança pública sobre como proceder em casos de violência contra a população LGBTI, “a fim de minimizar a culpabilização da vítima, viabilizar que as denúncias sejam realizadas de forma a não reforçar estigmas contra a nossa população”, conforme o texto.A associação defende a importância de “incentivar a criação um GT [grupo de trabalho] de segurança pública nas esferas federais, estaduais e municipais para discutir ações de segurança específicas para a população LGBTI, em parceira com órgãos públicos e sociedade civil”.
Nesse processo, é preciso, de acordo com o relatório, “garantir o registro da motivação do crime de LGBTfobia nos registros de ocorrência, discriminando o tipo (lesbofobia, homofobia, transfobia, etc), bem como o nome social e a identidade de gênero das pessoas para um levantamento de dados mais eficaz”. Do mesmo modo, defende que hospitais, institutos médico-legais e demais órgãos que atendam casos de violação e violência incluam campos contendo a motivação, a orientação sexual e identidade de gênero nos prontuários e registros de todos os casos.
Promoção de direitos
Viabilizar canais de denúncias e campanhas de combate à violência contra essa população também são outras propostas que constam no relatório. Além disso, a fim de garantir espaço permanente para a promoção dos direitos da população LGBTI, defende a instituições de conselho estadual específico para essa população nos estados onde não existam. A Antra acredita que o conselho é importante também para monitorar e cobrar a efetivação das ações.
Tendo em vista que cerca de 90% da população trans e travesti, segundo estimativas da associação, utilizam a prostituição como fonte de renda, o relatório também defende o diálogo permanente os órgãos governamentais com organizações desses grupos “sobre as questões inerentes às profissionais do sexo, a fim de que possa melhorar sua segurança durante o exercício das atividades”.
Governo Federal
Coordenadora-geral de Promoção dos Direitos LGBT do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), Marina Reidel afirma que, atualmente, o Disque 100 já recebe esse tipo de denúncia. Além do telefone, é possível registrar violações de direitos na internet no Humaniza Redes, mantido pelo governo federal.
A Agência Brasil ligou para o Disque 100, seguindo o procedimento que seria adotado por uma pessoa que necessitasse registrar uma agressão. Depois de 4’17’’, a ligação foi recebida. A atendente explicou que, caso a pessoa na linha fosse uma vítima LGBTI, seria direcionada para setor específico. De lá, a denúncia seria encaminhada para órgãos em estados e municípios.
É aí que, para a coordenadora, ocorrem os principais problemas. De acordo com Mariana Reidel, a denúncia recebida por esses canais muitas vezes “se perde” ao ser remetida para outros entes da Federação, até porque alguns não possuem instâncias específicas, como secretarias, voltadas à população LGBTI ou aos direitos humanos. Além disso, aponta dificuldades de checar as denúncias, dada a incompletude das informações.
Para a ampliação das medidas de proteção, ela aponta que o governo federal mantém diálogo constante com a sociedade civil organizada e também divulga direitos por meio de campanhas publicitárias. Questionada sobre a existência de políticas públicas voltadas à população trans, ela afirma que “estamos construindo um pacto contra a violência LGBTfóbica, por meio de acordo com estados e União”. De acordo com Mariana, que é mulher trans, uma consultora está visitando todos os estados para estudar cenários e discutir possíveis ações.
“A gente pretende, com o pacto, atuar nas áreas de segurança pública, educação, saúde e assistência social para garantir a efetividade de ações”, afirma. Ela antecipa que o governo pretende lançar o plano em maio.
O desafio, não obstante, é muito maior, e exige esforços múltiplos e constantes. “Nosso problema é um problema cultural, educacional, que nós não vamos conseguir mudar da noite para o dia, com a sociedade preconceituosa que nós temos”, critica.
Fonte: Agência do Brasil
- 25/01/2018
Número de assassinatos de travestis e transexuais é o maior em 10 anos no Brasil
Fevereiro de 2017. Era dia e pessoas passavam enquanto pelo menos três homens espancavam Dandara dos Santos, 42 anos. A violência vivida ao longo de toda uma vida chegou, em uma rua do bairro Bom Jardim, na periferia de Fortaleza, ao máximo. As cenas foram registradas em vídeo pelos próprios algozes. As imagens, que ganharam as redes sociais um mês depois do fato, foram interrompidas antes do ato final da sessão de tortura: os tiros disparados contra Dandara.
Dandara era travesti. No vídeo, o motivo do assassinato é gritado pelos homens, que zombam de sua condição e demonstram intolerância. A causa foi posteriormente confirmada pela polícia cearense.
O caso ilustra tantos outros que ocorrem no Brasil. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas em 2017 foram contabilizados 179 assassinatos de travestis ou transexuais. Isso significa que, a cada 48 horas, uma pessoa trans é assassinada no Brasil. Em 94% dos casos, os assassinatos foram contra pessoas do gênero feminino.
Os dados são detalhados no Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil em 2017, lançado nesta quinta-feira (25), pela Antra, em Brasília.
A secretária de Articulação Política da Antra e autora do estudo, Bruna Benevides, disse que a violência está atrelada não ao exercício da sexualidade, mas à identidade de gênero. “A gente diz que o machismo é a sementre do ódio e do preconceito. É como se os corpos dessas pessoas que desafiam as normas tivessem que ser expurgados da sociedade. E é isso que a sociedade tem feito”, disse.
O relatório destaca que o número de assassinatos em 2017 é o maior registrado nos últimos 10 anos. Apenas entre 2016 e 2017 houve um aumento de 15% de casos notificados. A organização aponta que a situação mantém o Brasil no posto de país onde mais são assassinados travestis e transexuais no mundo. Em segundo lugar está o México, com 56 mortes. A comparação é feita tendo como base os dados da ONG Internacional Transgender Europe (TGEU).
No Brasil, de acordo com o mapa, o Nordeste é a região que concentra o maior número de mortes, 69. Depois estão o Sudeste, com 57; o Norte e Sul, com 19 cada; e o Centro-Oeste, com 15. Em números absolutos, Minas Gerais é o estado que mais mata a população trans. Em 2017, 20 pessoas trans foram mortas em decorrência do preconceito contra sua identidade de gênero. Na Bahia, foram 17. Em São Paulo, 16, mesmo número do Ceará. No Rio de Janeiro, 14, como em Pernambuco. Alagoas, Espírito Santo e Tocantins registraram sete mortes cada um. Mato Grosso, seis. Cinco pessoas trans foram assassinadas no Amazonas, Goiás, Rio Grande do Sul e também em Santa Catarina. No Tocantins, 3. Já o Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Sergipe somam duas mortes cada. Uma morte ocorreu no Acre, Amapá, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima.
Perfil das vítimas
A maior parte das vítimas da violência transfóbica possui características semelhantes. Além do gênero, a idade é um fator que merece destaque. No relatório, não foi possível identificar a idade de 68 pessoas. Das outras 111, 67,9% tinham entre 16 e 29 anos. Pessoas que foram assassinadas entre os 30 e 39 anos representam 23% do total, ao passo que as entre 40 e 49 anos, 7,3%. Já as maiores de 50 anos, 1,8%.
De acordo com Bruna Benevides, os dados confirmam a baixa expectativa de vida da população trans. Baseada em pesquisas, a Antra aponta que ela é de cerca de 35 anos, metade da média da população brasileira. “Infelizmente, no Brasil, ser travesti e transexual é estar diretamente exposta à violência desde muito jovem. Começa na infância, família, depois na segunda instituição social que é a escola, que forma pessoas preconceituosas que vão reproduzir esse preconceito na sociedade em geral”, detalha.
As vítimas também têm cor preferencial. De acordo com o mapa, “80% dos casos foram identificadas como pessoas negras e pardas, ratificando o triste dado dos assassinatos da juventude negra no Brasil”. Associando diferentes formas de opressão, Bruna Benevides conclui que, “não é seguro, hoje, no Brasil, ser travesti e transexual, como não é seguro ser mulher e negro no país”.
Do total das pessoas mortas, 70% eram profissionais do sexo. Daí também o fato de 55% dos crimes terem ocorrido nas ruas. Para a Antra, os dados mostram “o ódio às prostitutas, em um país que ainda não existe uma lei que regulamente a prostituição que, apesar de não ser crime, sofre um processo de criminalização e é constantemente desqualificada por valores sociais pautados em dogmas religiosos que querem manter o controle dos seus corpos e do que fazemos com eles”.
Requintes de crueldade
Ao adentrar a história desses assassinatos, a Antra detalhou também os tipos de agressões praticadas. Apenas em sete casos não foi possível, por exemplo, identificar o instrumento utilizado no ato criminoso. Conclui que, dentre os identificados, em 52% as mortes foram cometidas com o uso de armas de fogo; em 18% por arma branca e, em 17%, por espancamento, asfixia e/ou estrangulamento. Em muitos, houve associação de mais de um tipo de arma.
“A associação mais comum é com a agressão física, tortura, espancamento e facadas. 85% dos casos os assassinatos foram apresentados com requintes de crueldade como uso excessivo de violência, esquartejamentos, afogamentos e outras formas brutais de violência. O que denota o ódio presente nos casos. Onde vemos notícias de corpos gravemente mutilados, tendo objetos introduzidos no ânus das vítimas, tendo seus corpos incendiados e jogadas de viadutos”, diz o texto.
“Não é só matar. É matar, esquartejar. Para expurgar toda e qualquer possibilidade de existência e também de humanidade”, analisa Bruna. Apesar dessa situação, a impunidade também é uma marca presente nesses crimes, conforme a associação. De acordo com o relatório, foram encontradas notícias de apenas 18 casos em que os suspeitos foram presos, o que representa pouco menos de 10% do total.
Subnotificação
A autora do relatório aponta que, por não existirem dados oficiais sobre a violência contra a população trans no Brasil, o levantamento anual é feito a partir de pesquisa em matérias de jornais e informações que circulam na internet, bem como de relatos que são enviados para a organização. A coleta é diária e manual. Ao longo desse trabalho, as informações são inseridas em um mapa virtual, que detalha nome, identidade de gênero da vítima, local da morte e o que mais estiver disponível.
A falta de dados não permitiu, por exemplo, a inclusão na lista de sete mortes que não puderam ser tipificadas como assassinatos, bem como aquelas que ocorreram no exterior. O relatório também não incluiu o número de suicídios, por não serem necessariamente derivados da condição de gênero, embora as organizações que reúnem pessoas trans apontem o alto índice de suicídios decorrentes do preconceito, violências e outras dificuldades que marcam a vida de travestis e transexuais.
“Nós forjamos formas de levantar dados, já que o Estado não os têm. Não há, por exemplo, uma política de respeito ao uso do nome social pela polícia nos boletins de ocorrência. Sobra pra gente traçar estratégia”, aponta. Antes da Antra, o Grupo Gay da Bahia (GGB) já fazia esse mapeamento. Uma semana atrás, foi lançado levantamento do grupo sobre a morte de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O relatório apontou a ocorrência de 445 mortes, número também recorde.
Fonte: Agência Brasil
- 24/01/2018
Vítimas de violação de direitos na Baixada terão assistência jurídica gratuita
Parceria firmada entre a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos do Rio de Janeiro e a Universidade Iguaçu (Unig) vai garantir assistência jurídica gratuita a vítimas de violações de direitos humanos na Baixada Fluminense. O anúncio foi feito hoje (24) pelo secretário Átila Nunes. Ele informou que erá prestada assistência jurídica para crimes como intolerância religiosa, LGBTfobia e racismo.
"Oferecer acompanhamento jurídico às vítimas é uma forma de garantir que todos tenham acesso a seus direitos”, disse o secretário. No ano passado, Nova Iguaçu foi o município que registrou o maior número de casos de intolerância religiosa na Baixada Fluminense. Somente em agosto, 17 terreiros de religiões afro-brasileiras foram depredados na região. ”Esse número é assustador", lamentou Átila Nunes.
O atendimento às vítimas será feito por estudantes de direito da Unig, supervisionados por professores e advogados da instituição. A secretaria fará uma capacitação com os alunos e educadores na temática de direitos humanos entre os dias 12 e 16 de março e, a partir desta data, os casos já poderão ser encaminhados à universidade. O Núcleo de Práticas Jurídicas da Unig funciona na Escola de Desenvolvimento de Habilidades Profissionais Integradas, que inclui também alunos de logística e de administração, além de uma empresa júnior e um centro de mediação.
O serviço Disque Combate ao Preconceito, criado em agosto de 2017 pela Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos recebe denúncias e oferece assistência a vítimas de preconceito por meio do telefone (21) 2334 9551.
- 23/01/2018
Levantamento do CNJ aponta 622 grávidas ou lactantes em presídios do Brasil
O Brasil tem 622 mulheres presas grávidas ou mães de recém-nascidos, em fase de amamentação. É o que mostra levantamento divulgado nesta quinta-feira (25/1) pelo Conselho Nacional de Justiça, com base em novo cadastro nacional. A ideia é permitir que o Judiciário conheça e acompanhe, continuamente, a situação das mulheres submetidas ao sistema prisional brasileiro. Do total, 373 estão grávidas e 249 amamentam o bebê.
O banco de dados, porém, não informa o número de mulheres em prisão domiciliar. As informações têm como base o dia 31 de dezembro de 2017 e revelam que o maior número de mulheres gestantes ou lactantes estão no estado de São Paulo — 139 são gestantes e 96 lactantes. Em seguida vem Minas Gerais, com 22 gestantes e 34 lactantes, e Rio de Janeiro, com 28 gestantes e 10 lactantes. O Amapá é a única unidade da federação que, desde outubro de 2017, não tem mulheres presas em nenhuma dessas situações.
A presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, entende que, se o Judiciário não tiver condições de deferir a prisão domiciliar, o Estado deve providenciar local adequado para que a mãe possa ficar custodiada até o término da gestação, assim como durante o período de amamentação de seu filho.
Solteira e parda
No ano passado, um estudo revelou o perfil das mulheres que tiveram filho na prisão. Quase 70% delas tinham entre 20 e 29 anos; 70% são pardas ou negras e 56% solteiras, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz e do Ministério da Saúde. Em dezembro de 2017, havia 249 bebês ou crianças morando com suas mães, nas penitenciárias de todo o País.
Enquanto estiver amamentando, a mulher tem direito de permanecer com o filho na unidade prisional, de acordo com artigo 2º da Resolução 4 de 2009, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, se o juiz não lhe conceder a prisão domiciliar. Direitos da mulher presa Desde 2017, a Lei 13.434 proíbe o uso de algemas em mulheres durante o trabalho de parto. Já existia resolução contrária do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) e súmula do Supremo, porém a prática era comum sob alegação de “risco de fuga”.
As presas têm direito de receber roupas, cobertas, material de higiene e limpeza e produtos de higiene pessoal, além de de assistência à saúde, inclusive ginecologista e participação em programas de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis.
Fonte: Consultor Jurídico
- 16/01/2018
Maior parte dos crimes cometidos no Rio ocorre perto da casa do criminoso, diz FGV
Conforme a pesquisa, algumas das hipóteses de os criminosos cometerem crimes perto de casa são: gasto para locomoção, risco no momento de fuga e garantia de proteção de uma facção criminosa
A maioria dos crimes cometidos na cidade do Rio de Janeiro ocorre em locais de até 12 quilômetros de distância de onde o criminoso vive. A constatação foi feita por uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, desenvolvida pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas, a partir de dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
A fundação analisou os dados de janeiro a julho de 2015, de 1.644 detentos maiores de idade e que foram condenados naquele ano por roubo, furto e extorsão mediante sequestro e tráfico de drogas. Foram considerados na análise o local onde vivia o detento e onde ele cometeu o crime.
A pesquisa considerou como descolamento curto quando o crime foi cometido em um percurso de até 12 quilômetros, deslocamento médio para percursos entre 13 e 24 quilômetros, e de 25 a 40 quilômetros deslocamentos longos. A geografia da cidade do Rio de Janeiro foi utilizada como critério para poder estipular os tipos variados de percurso.
De acordo com a coordenadora do levantamento, socióloga Ana Luisa Azevedo, os crimes analisados representam 72% dos delitos que levaram a condenações na capital fluminense. E na maioria dos casos, os crimes foram praticados em curtas “Como se fosse um deslocamento prioritário entre eles”, disse.
A região da cidade que concentrou mais crimes contra o patrimônio (roubo, furto e extorsão) com trajetórias curtas foi a zona norte, seguida do centro da cidade. Já na zona oeste predominam casos de tráfico de drogas, também em distâncias curtas.
Conforme a pesquisa, algumas das hipóteses de os criminosos cometerem crimes perto de casa são: gasto para locomoção, risco no momento de fuga e garantia de proteção de uma facção criminosa.
O levantamento indica que essa escolha não foi por acaso. “Pode ter sido pensada pelo deslocamento e relação custo/benefício, mas pode ter outras coisas envolvidas, como a questão do transporte público, áreas expressas próximas, uma proteção de facções criminosas”, disse a coordenadora.
Os dados sobre o tipos de crimes em determinadas regiões e a questão do deslocamento podem ajudar as investigações policiais. “Tudo isso pode ser levado em consideração”, afirmou.
A FGV pretende atualizar a pesquisa com a inclusão de outros crimes, em um período maior de tempo, abrangendo dados fechados de 2016. A perspectiva é iniciar o novo trabalho ainda este ano.
Fonte: O Dia
- 08/01/2018
Casos de feminicídio no Rio aumentam 62% de 2016 para 2017
Em 2017, o estado do Rio de Janeiro registrou aumento no número de feminicídios, que é o assassinato de mulheres por motivo de gênero, derivado geralmente do ódio, desprezo ou sentimento de propriedade sobre elas. No ano passado, foram 88 casos e em 2016 foram 54 registros, o que representa aumento de 62%.
Os dados foram divulgados hoje (8) pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) e correspondem aos casos que viraram processos judiciais.
Os registros do Instituto de Segurança Pública do estado (ISP) somam 62 feminicídios de janeiro a novembro de 2017 e 225 tentativas de feminicídio no mesmo período. De 2016, o ISP só tem dados de novembro e dezembro, que somam 14 feminicídios e 43 tentativas.
A divulgação de estatísticas sobre o feminicídio no Rio de Janeiro está prevista na Lei estadual nº 7.448, de outubro de 2016. Os dados do ISP correspondem às ocorrências registradas nas delegacias.
O Observatório Judicial da Violência contra a Mulher, um portal do TJRJ, também aponta o crescimento das prisões por processos de violência doméstica. No primeiro semestre de 2017 foram 531 casos. Entre 2011 e 2016, o crescimento foi de 173,45%, indo de 550 para 1.504 reclusões.
Desde 2015 o feminicídio é classificado como homicídio qualificado. O crime é previsto no Código Penal e também na Lei Maria da Penha.
Fonte: Agência Brasil
Estupro foi o único tipo de crime que aumentou em 2017 no Distrito Federal
O crime de estupro foi o único que aumentou no Distrito Federal (DF) em 2017, na comparação com o ano anterior. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (8), a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social do DF informou que foram registrados até dezembro 883 casos, com aumento de 32,4% em relação a 2016, que teve 667 ocorrências. Os registros incluem informações de estupros sofridos em anos anteriores. Quando observados apenas os casos do referido ano, o crescimento foi de 12%, passando de 616 para 687 casos.
Em 59% dos 883 estupros, havia vínculos entre a vítima e o agressor. O crime ocorreu na residência de um ou outro, em 39% dos casos. Em 55% das vezes, não houve conjunção carnal. Meninas e mulheres foram as principais vítimas. Até 15 de dezembro, segundo informações compiladas pela Secretaria de Saúde do DF, houve 466 estupros contra mulheres e 53 contra homens. Na maior parte dos casos, as pessoas que sofreram ataques tinham entre 10 e 39 anos. Quando feito o recorte para as vítimas consideradas vulneráveis, foram 543. Em 93%, a pessoa vulnerável foi estuprada por conhecidos e, em 78%, em sua residência e/ou na do criminoso.
Para o secretário da Segurança Pública e da Paz Social, Edval Novaes, o aumento de registros guarda conexão com campanhas do governo contra a subnotificação. Novaes destacou a importância da denúncia, pois “o primeiro passo é o registro ser feito na delegacia, para que a polícia possa atuar e, consequentemente, a pessoa ser julgada e, eventualmente, presa”.
O secretário argumentou que o combate a esse tipo de crime é complexo, tanto por envolver diversos setores, como educação e assistência social, quanto por ocorrer em casa e entre pessoas conhecidas. Diante desse quadro, Novaes destacou que “o cuidado tem que ser em casa, o cuidado tem que começar na família para que isso não ocorra”. Questionado sobre as políticas adotadas para coibir o crime, ele citou a existência de delegacias especializadas e de uma rede de assistência voltada ao atendimento de crianças, adolescentes e mulheres vítimas da violência no DF.
Integrante do Fórum de Mulheres do DF, Cleide Lemos afirmou que esse tipo de crime persiste, fundamentalmente, “porque a cultura não está sendo alterada”. Ela detalhou que o estupro é uma violência estrutural, decorrente do patriarcalismo e do machismo, e que ocorre em todas as camadas sociais. Na sua opinião, isso explica porque uma unidade da federação com alto nível de escolaridade e renda mantém índices tão alarmantes de estupro. “Está ligado a uma forma de ver o mundo e de encarar as mulheres como objetos e patrimônio”, alertou.
Apesar desse viés, Cleide, que é consultora legislativa do Senado Federal, disse que é possível adotar políticas públicas de prevenção, como discussões sobre gênero nas escolas, melhoria na iluminação das cidades e ocupação dos espaços públicos. Para Cleide Lemos, “algumas questões de urbanização podem contribuir para garantir um ambiente de mais segurança para as mulheres”.
Índices com redução
Ao longo do ano passado, 504 pessoas morreram vítimas de homicídio no DF. No ano anterior, foram 603, o que representa uma redução de 16,4%. Foi o menor número de ocorrências desse tipo nos últimos 15 anos, segundo a Secretaria da Segurança. O número de latrocínios ( roubo seguido de morte) também caiu 18,2%.
Os chamados crimes contra o patrimônio também caíram. O roubo a pedestres caiu 3,8%; o roubo de veículos, 14,3%; os assaltos em transporte coletivo, 14,3%; o roubo em residências, 6,2%; e o furto em veículos, 1,1%. O indicador roubo em comércio foi o que teve a maior queda: 23%. Para Edval Novaes, os resultados atingidos resultam do programa Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida e da articulação de todas as forças de segurança, bem como da parceria com outros órgãos de governo, como as secretarias de Mobilidade e de Saúde.
Na entrevista coletiva de hoje, órgãos públicos também apresentaram balanços das polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros Militar e do Departamento de Trânsito (Detran-DF). A polícia destacou o atendimento de 341.604 ocorrências e a apreensão de 3.348,5 quilos de maconha, crack e cocaína. De acordo com o órgão, foram detidas m32 mil pessoas no DF, ao longo de 2017.
Já o Detran-DF destacou a menor taxa de mortes no trânsito desde que começou o registro de estatísticas, em 1995. Foram 241 acidentes com morte no ano, 122 a menos que em 2016, o que significa redução de 35%. No balanço dos bombeiros, o lado positivo foi a visitação de imóveis para combate à dengue e à chikungunya, que resultou na proteção de 109.204 unidades. O negativo foi o registro de diversas queimadas, que afetaram diretamente 16.296,26 hectares do território.
Os representantes destes órgãos afirmaram que as políticas já adotadas serão reforçadas em 2018 e que, ao longo do ano, novas pesquisas sobre a percepção da violência no DF serão efetivadas, a fim de se averiguar como a população tem encarado a questão da segurança no território.
Fonte: Agência Brasil