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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Caso Richthofen- Parte III

Primeiro julgamento
O julgamento dos três réus foi marcado para o dia 5 de junho de 2006 no 1º Tribunal do Júri de São Paulo.

A imprensa não obteve permissão de filmar, mas cerca de 80 pessoas foram sorteadas (numa lista de 3 mil inscritos) para acompanhar o julgamento.

Suzane von Richthofen chegou ao fórum por volta das 11h30. Os irmãos Cravinhos chegaram um pouco mais cedo, uma hora antes. O julgamento estava previsto para começar às 13h.


Estratégia da Defesa no julgamento
Os advogados dos irmãos Cravinhos, Geraldo e Divaine Jabur — alegando que não conseguiram se encontrar com seus clientes para melhor preparar a defesa — não compareceram ao júri.

Com a ausência dos advogados dos Cravinhos, o julgamento dos irmãos foi cancelado.
Na seqüência, após os advogados de Suzane se retirarem do plenário, — depois de uma discussão com o juiz quanto ao fato de uma testemunha imprescindível não ter comparecido; o júri dela também foi adiado.


Segundo julgamento
Com o intuito de evitar novo adiamento, o juiz do caso tomou algumas precauções, como autorizar encontro entre os irmãos Cravinhos e um de seus advogados no fim de junho de 2006, e nomear um defensor público (e até um substituto para este último) para defender os irmãos, caso seus advogados novamente faltem. Possíveis manobras da defesa de Suzane não eram esperadas, já que ela não tinha mais o benefício de prisão domiciliar.

Um novo julgamento foi marcado para segunda-feira, 17 de julho de 2006. A sentença foi proferida na madrugada de sábado, 22 de julho, às 02 a.m.

[editar] Primeiro dia
Segunda-feira, 17 de Julho de 2006.

No primeiro dia de julgamento, surgiram polêmicas e novas versões para os fatos. Os três acusados depuseram:

Depoimento de Suzane von Richthofen
Em seu depoimento, Suzane afirma que não tinha conhecimento do plano para matar seus pais, concebido e executado única e exclusivamente pelos irmãos Cravinhos. Ela também diz que estava “muito maconhada” quando o crime ocorreu, que conduziu os irmãos para a casa sem saber que seus pais iriam ser assassinados, e que só se deu conta do ocorrido ao chegar em casa com seu irmão Andreas.Afirma ainda que Daniel era excessivamente ciumento. Fez menção a uma vez em que ela fez uma viagem à Alemanha e foi obrigada a gastar muito com cartões telefônicos, apenas para manter contato com o namorado. Quando Suzane voltou, Daniel disse a ela que não poderia ficar longe dele por tanto tempo e que tinha tentado se matar por causa da ausência de sua namorada.Suzane declarou ter presenteado Daniel com presentes caros custeados com o dinheiro dos pais. Segundo ela, Suzane presenteava Daniel com DVDs, TVs e bens caros. 'Ele sempre estava com dinheiro na carteira. Mas era sempre o meu dinheiro', declarou a filha das vítimas do assassinato.Suzane ainda declarou que no clube de aeromodelismo onde ela e seu irmão Andreas conheceram Daniel, ela ficou sendo conhecida como "a galinha dos ovos de ouro da família Cravinhos".

Outro ponto de conflito é a perda de sua virgindade: enquanto ela afirma tê-la perdido com Daniel Cravinhos, Daniel diz que ela a perdeu com seu namorado anterior. Segundo o jornal Folha de São Paulo, esta discussão é relevante porque desta forma pode cair por terra a principal tese da defesa de Suzane, a de que Daniel exercia um fascínio irresistível sobre ela.


Depoimento de Cristian Cravinhos
Cristian, por sua vez, também apresentou novas informações: segundo ele, apenas seu irmão Daniel teria matado Manfred e Marísia. Cristian teria assumido esta responsabilidade por achar que, desta forma, Daniel passaria menos tempo preso. O réu também insiste que Daniel e Suzane estavam convencidos a cometer o crime, apesar de suas tentativas de dissuadi-los; de acordo com ele, Suzane teria dito: “Quero matar meus pais hoje”. Segundo a promotoria, Christian pode perder o benefício da redução da pena por ter mudado a versão dos fatos.


Depoimento de Daniel Cravinhos
Já Daniel afirma, entre outros, que a mentora do crime foi Suzane von Richthofen. De acordo com ele, era de conhecimento geral o péssimo relacionamento entre sua ex-namorada e seus pais. Daniel sustenta que Suzane sofria agressões físicas e verbais, além de abusos sexuais (fato que Suzane nega: ela classifica sua família como “normal, do bem”). Por isso e pela herança, Daniel afirma que Suzane estaria convencida a matar seus pais. Ele também afirmou ter sido “usado” pela ex-namorada para dar cabo de seu plano.


Conclusões

A defesa dos irmãos Cravinhos acusou Suzane de “mentirosa” e pediu uma acareação entre os três acusados, pedido acatado pelo juiz Alberto Anderson Filho. Esta acareação poderia esclarecer pontos cruciais, como quem foi o mentor e qual o real papel de Suzane no crime – há controvérsias, por exemplo, se ela teria ou não visto o corpo dos pais.


[editar] Segundo dia
Terça-feira, 18 de Julho de 2006.

A parte principal do segundo dia de julgamento foi o depoimento de Andreas, irmão de Suzane.

Depoimento de Andreas von Richthofen
A primeira pessoa a ser ouvida, Andreas Albert von Richthofen, afirmou que nem ele e nem a irmã foram vítimas de abusos ou maus tratos por parte dos pais, ao contrário do que disse Daniel Cravinhos. O rapaz classificou a relação de Suzane com Manfred e Marísia como normal, sem conflitos excepcionais. Ele também disse ter sofrido “chantagem emocional” para que escrevesse um bilhete dizendo que perdoava a irmã, e que na verdade não a perdoou, afirmou não acreditar em seu arrependimento e nem em sua intenção de desistir da herança, e disse que ele e Suzane foram influenciados por Daniel Cravinhos a usar maconha. Andreas também admitiu se sentir ameaçado pela irmã: “Dizem por aí que ela é psicopata. Eu não sei, mas de uma pessoa assim a gente pode esperar qualquer coisa”.Andreas revelou ainda que não consegue fazer uso do dinheiro porque Suzane está complicando o processo.Outra mentira de Suzane teria sido sobre a arma usada no crime. Em seu depoimento, ela disse que a arma era do irmão, o que Andreas nega. Ele disse apenas que Suzane pediu que ele jogasse o objeto fora.


Depoimento da delegada Cíntia Tucunduva

A convite do Ministério Público, foi ouvida também a delegada de polícia Cíntia Tucunduva Gomes. Ela desmontou a versão apresentada no dia anterior pelos irmãos Cravinhos de que apenas Daniel teria golpeado as vítimas: para ela, as agressões foram simultâneas pois seria impossível que um dos dois tivesse sido atacado sem que o outro esboçasse reação. Gomes também ressaltou a frieza de Suzane, que se portou de modo desapaixonado desde o princípio – após confessar o crime, Suzane teria penteado os cabelos e perguntado ao então namorado se estava bonita, antes de ser fotografada e fichada no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).


Outros depoimentos
Foram ouvidos ainda: Fábio de Oliveira (agente penitenciário) e Hélio Artesi (pai de uma ex-namorada de Cristian), que atestaram o bom comportamento dos irmãos Cravinhos; Ivone Wagner, que testemunhou que Suzane tratava mal sua mãe; e o policial militar Alexandre Boto, que "estranhou" a atitude de Suzane ao chegar à casa dos von Richthofen para verificar o que havia ocorrido.


[editar] Terceiro dia
Quarta-feira, 19 de Julho de 2006.

Os advogados de Suzane tentaram manobra para incluir novos documentos nos autos do processo: leia a seção relativa à Herança.


Depoimento de Nadja Cravinhos

A mãe dos réus Cristian e Daniel Cravinhos, Nadja Cravinhos de Paula, prestou um depoimento carregado de emoção. Ela ressaltou o arrependimento e profunda vergonha que os filhos sentem, apesar de pedir aos jurados punição para todos: "Cada um tem que pagar pelo que fez, e não pelo que não fez." Afirmou que perdoou a todos, que os pais de Suzane eram agressivos quando bebiam e que de fato abusavam sexualmente da garota, que Andreas era influenciado em demasia por Suzane, e que Cristian não tem mais problemas com drogas (pois teria largado há dez anos).

Reforçando a linha de defesa montada pelo advogado dos filhos, Nadja declarou que Suzane não perdeu a virgindade com Daniel e que Manfred e Marísia bebiam muito e “eram extremamente agressivos” entre eles e com os filhos. Nadja disse que, quando Suzane tinha que ir para o sítio com os pais, entrava em pânico. "Não sei se ela se fazia de vítima, fazendo dele (Daniel) um instrumento", contou a mãe dos Cravinhos. Cristian e Daniel choraram bastante durante o depoimento.


Segundo depoimento de Cristian Cravinhos

Horas depois, Cristian - acredita-se que influenciado pelo depoimento da mãe - mudou seu próprio depoimento, confessando ter golpeado Marísia von Richthofen até a morte. Ele atribuiu a concepção do plano a Suzane: ela os teria convencido a participar do crime alegando que, com os pais, "não tinha vida", e que Manfred a teria tentado estuprar quando ela tinha 13 anos. Entretanto, manteve as declarações de que teria batido a porta do carro e pisado com mais força, na tentativa de acordar o casal e lhes dar alguma chance de reação. Disse também que, mortos Manfred e Marísia, Suzane o teria acalmado, dizendo: "Você não me tirou nada. Você me deu uma nova vida". Ao final do depoimento, Cristian chorava muito e foi abraçado pelo pai. O julgamento foi suspenso por alguns minutos, e os jurados retirados do plenário.


Depoimento de Fernanda Kitahara
Depôs também Fernanda Kitahara, ex-colega de faculdade de Suzane. Ela confirmou que Suzane e Andreas usavam maconha, e que a droga era comprada por Daniel. Disse que sabia de desentendimentos entre Suzane e os pais, ressaltando um caráter controlador por parte deles: "Ela tinha horário pra voltar pra casa, saindo comigo ou com o namorado" - com isso Suzane teria, por várias vezes, mentido aos pais para encontrar Daniel. Também disse que Suzane era, em sala de aula, quieta e sem amigos, graças ao ciúme exacerbado de Daniel, e contou que Suzane lhe disse que o namorado era perseguido pelo espírito de um amigo, o "Nego" ou "Negão". Este afirmava que a acusada teria de escolher entre os pais e o namorado.


Quarto dia
Quinta-feira, 20 de Julho de 2006.


O quarto dia começou com a exibição das imagens da perícia realizada no corpo de Marísia. A perita Jane Belucci fez uso de fotografias para esclarecer a dinâmica dos eventos, e a natureza das fotos, tais como a do rosto desfigurado de Manfred, causou desconforto geral. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) concluiu que a mãe da ré morreu por traumatismo crânio-encefálico, causado por "instrumento contundente", com vários golpes. De acordo com a análise, a mãe de Suzane teve uma morte agônica, se mantendo viva por algum tempo.Enquanto essas imagens eram mostradas os réus Suzane, Daniel e Cristian permaneceram de costas para o telão, sem em nenhum momento olhar para fotos.

O dia foi reservado ainda para a leitura de depoimentos das testemunhas (ainda na fase processual do caso) e para a exibição da reconstituição do filme e de uma série de reportagens acerca do crime, além dos depoimentos dos acusados.

Daniel e Cristian choraram copiosamente durante a exibição de suas encenações, e pediram para serem retirados do plenário. Suzane não foi vista chorando, apesar das declarações em contrário de seus advogados, e também abandonou o plenário — para o promotor Roberto Tardelli, entretanto, arrependimento e desespero não diminuem a pena. Os réus divergiram sobre quem ficou responsável por desarrumar a biblioteca da casa na simulação de roubo, e sobre o momento em que pegam uma garrafa de água para jogar nas cabeças das vítimas.

Também foram lidas cartas de amor trocadas por Suzane e Daniel. Enquanto o rapaz se emocionou a ponto de ser retirado do plenário, Suzane demonstrou constrangimento e desconforto (especialmente nos trechos em que ela chama Daniel de “meu maridinho” e outros apelidos similares, que arrancaram risos do público), mantendo sua cadeira afastada das dos irmãos.


Conclusões

Para o promotor Tardelli [3], o comportamento dos réus ressalta a “frieza” de Suzane e o “descontrole emocional” de Daniel — a combinação perfeita para se cometer um crime como este, em que lógica e coragem eram necessários. A promotoria disse que iria tentar provar que o crime foi inteiramente planejado, que nenhum dos acusados foi induzido. Para isto eles pretendem lembrar, entre outros, que logo após o crime Daniel e Suzane protagonizavam cenas de amor na delegacia, enquanto Cristian foi a um churrasco, viajou e comprou uma moto.


Quinto dia
Sexta-feira, 21 de julho de 2006.


No último dia, foram realizados os debates entre acusação e defesa e, após a decisão do Ministério Público de se abrir mão do tempo reservado para réplica, os jurados se reuniram para decidir o futuro dos réus.

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