Pesquisadores descobriram que o comportamento aparentemente errático do “Estripador de Rostov”, um serial killer dos anos 80, segue o mesmo padrão matemático dos terremotos, avalanches, quebra da bolsa e outros eventos esporádicos. A pesquisa dá uma explicação do porque os serial killers matam.
Os engenheiros elétricos Mikhail Simkin e Vwani Roychowdhury, da Universidade da Califórnia, EUA, fizeram um modelo do comportamento de Andrei Chikatilo, o famoso assassino que matou 53 pessoas em Rostov, na Rússia, entre 1978 e 1990. Apesar dele às vezes ficar até três anos sem cometer um assassinato, em outras ocasiões a espera era de apenas três dias. Os pesquisadores descobriram que o parece ser completamente sem padrão segue uma distribuição matemática conhecida com “lei do poder”.
Quando o número de dias entre os crimes de Chikatilo são cruzados com o número de vezes que ele esperou esse mesmo número, a relação forma quase uma linha perfeita em um tipo de gráfico específico. É o mesmo resultado que os cientistas conseguem quando cruzam a magnitude dos terremotos e o número de vezes que cada uma aconteceu – além de outros fenômenos. A lei do poder, nesse caso, sugere que existe um processo natural por trás do comportamento do serial killer.
A hipótese dos pesquisadores tem relação com outra, que explica as fases de convulsões em epiléticos. Os efeitos psicóticos que levam um serial killer a cometer um crime “vem da ação exagerada e simultânea de uma série de neurônios no cérebro”.
No cérebro, o acionamento de um neurônio apenas é capaz de transmitir o impulso para milhares de outros, e assim por diante. Desse modo, a atividade neuronal é uma cascata. Na maioria das vezes, esse efeito é breve, mas ocasionalmente – em intervalos definidos pela lei do poder – a atividade cruza essa fronteira.
Em pessoas epiléticas, essa passagem induz a convulsão. E se a teoria de Simkin e Roychowdhury está correta, uma crescente neuronal similar é o que gera o desejo incontrolável de Chikatilo de matar. Algumas vezes, levava anos para que esse desejo surgisse, outras, apenas dias.
Ritmo de assassinatos
O neurocientista James Fallon, que estuda o cérebro de psicopatas, afirma que a pesquisa está alinhada com outras observações passadas sobre serial killer, que parecem funcionar como dependentes de drogas. De acordo com Fallon, em ambos os casos, a abstinência “cresce e cresce, e então atinge um ponto máximo, quando eles vão atrás do que precisam”.
E como acontece no caso de dependentes, a falta de matar causa um aumento nos hormônios de uma parte do cérebro, a amídala, “e isso gera um sentimento muito, muito ruim, que só pode ser revertido quando se aciona o estimulo do que se é viciado”.
Apesar do novo estudo apresentar uma análise competente, com sistemas de engenharia, o modelo teórico ainda precisa ser ajustado. “O tempo neuronal é em termos de milissegundos à segundos, e não meses à anos (como usaram os autores). Então penso que eles precisam adicionar um componente, talvez um mecanismo hormonal que tenha uma constante de semanas, meses e anos”, comenta Fallon.
Esse tipo de relógio hormonal está envolvido em muitos tipos de ritmos biológicos, incluindo o ciclo de dormir e acordar, o reprodutivo e até o sexual. De acordo com Fallon, se os autores forem capazes de fazer um modelo da influência hormonal no comportamento dos serial killers, eles podem, talvez, revelar “um ritmo dos serial killer”.
Marionetes da biologia
A professora de direito, Amanda Pustilnik, foca seu trabalho em modelos da mente e neurociência nas leis criminais. Ela acredita que um estudo mais rigoroso e maior poderia ser assimilado em julgamentos que envolvem serial killers. Mas, como ela disse, ainda não é suficiente.
“Certos padrões podem acontecer de maneira aleatória sem significar algo. Mesmo que seja interessante que no caso desse serial killer foi possível aplicar a distribuição da lei do poder, seria incorreto tirar conclusões disso”, comenta Pustilnik. “Se os autores expandirem isso, tornando-o um modelo estatístico válido, então talvez seja uma linha interessante de pesquisa, de comportamentos humanos causados pela urgência de uma sensação”.
De acordo com Pustilnik, pesquisas neurocientíficas que demonstrem que o psicopata é apenas uma vítima de uma condição biológica não podem ser usadas como argumento para inocência. Entretanto, é aceito como evidência, que pode atenuar a pena.
“Quando estamos tentando definir qual o tamanho da culpa dessa pessoa, eu posso imaginar que um serial killer pode usar esse estudo para argumentar que ele não é culpado moralmente, mas é uma marionete da biologia”, diz.
Porém, Pustilnik argumenta que para ser usado dessa maneira, o resultado desse estudo deveria ser generalizado para uma escala muito maior, para determinar se é significativo ou apenas uma relação ocasional.
Assim como a necessidade de expandir os dados, existem muitas outras linhas para se testar os resultados. Os autores afirmam suspeitar que muitos comportamentos humanos comuns acontecem da mesma maneira, a partir da distribuição da lei do poder. Por exemplo, “comprar ou ficar bêbado talvez siga esse mesmo padrão em algumas pessoas”, comenta Simkin. Como alguns assassinos, pessoas com esses comportamentos talvez não sejam tão livres quanto pensam.
Publicada no site: http://hypescience.com/o-que-serial-killers-e-terremotos-tem-em-comum/
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